Jesus
tinha irmãos. Ou seriam primos?
Anotações
sobre uma questão lexical pertinente
Cesar
Motta Rios
Introdução
Evangélicos não costumam ter dúvidas
sobre o assunto. Afirmam que Maria, mãe de Jesus, teve uma vida conjugal normal
após o parto do Messias, gerou filhos com José e os criou. Trechos dos Evangelhos que se referem aos irmãos de
Jesus não lhes causam nenhum incômodo. A Igreja Católica Apostólica Romana
(entre outras), por outro lado, não admite que Maria tenha deixado de ser
virgem. Portanto, não aceita que esses irmãos de Jesus sejam de fato irmãos
(maternos).[i] Cada grupo está convicto
de sua leitura, seja pela confiança nos tradutores, seja com base em um dogma
legado pela tradição. Neste texto, apresento algumas anotações de caráter
lexicológico que podem servir de base a uma reflexão acurada sobre a questão.
Não me proponho a apresentar uma resposta definitiva, e nem sequer me ocupo dos
variados argumentos favoráveis e contrários à virgindade perpétua de Maria, uma
vez que muitos deles extrapolam a questão lexical específica de que tratarei,
pois abarcam detalhes narrativos diversos e até mesmo outras questões linguísticos
instigantes e trabalhosas. Restrinjo-me ao estudo de um termo: ἀδελφός - adelphós.
Anotações a partir do problema
Jerônimo, em seu Sobre a virgindade perpétua da Santa Maria –
Contra Helvidio[ii],
argumenta que as Escrituras utilizam o termo irmão de quatro modos: por
natureza, por povo, por relação sanguínea e por amor. Assim sendo, o
evangelista pode utilizar o termo grego ἀδελφός - adelphós
com um sentido amplo, que inclui parentes mais distantes que irmãos, como
primos ou sobrinhos, o que seria costume nas Escrituras: “são chamados irmãos por relação sanguínea aqueles que são de uma mesma
família, isto é, de uma mesma patria[iii], o que em latim é traduzido paternitates”[iv] (Perp. Virg. 14). Martinho Lutero e João Calvino concordam com o
argumento do pai latino. Em seu comentário sobre Mateus, mais
especificamente ao tratar sobre o versículo 55 do capítulo 13, Calvino
demonstra conhecimento do escrito de Jerônimo e afirma que o termo ἀδελφός - adelphós
é usado conforme o idioma hebraico, com sentido amplo. Segundo ele, Helvidio, o
mesmo a que se opunha Jerônimo no referido escrito, demonstra excessiva
ignorância ao atribuir filhos a Maria. Quanto
ao reformador alemão, ele diz em um sermão sobre o Evangelho de João, ao se referir a Jo 2:12, que concorda com
aqueles que afirmam que os tais “irmãos” são “primos”, pois o Espírito Santo e
os judeus teriam mesmo o costume de chamar primos de irmãos.[v]
Ao
falar do uso de frater pelas
Escrituras, Jerônimo não menciona qualquer diferenciação entre os termos em
grego e hebraico. Contudo, nos leva a suspeitar, com Calvino, da possibilidade
de que o suposto uso seja oriundo do texto hebraico, já que os exemplos
arrolados para o termo significando familiares mais distantes provêm do Antigo
Testamento, e porque o termo grego no uso geral da língua tem um significado
restrito. Evidência dessa influência do
hebraico sobre o grego no âmbito das Escrituras seria o fato de que uma
tradução grega específica da Torah, a
Septuaginta, que, em princípio, era
uma referência para os escritores do Novo Testamento, utiliza o termo ἀδελφός - adelphós
para traduzir אח - ‘akh mesmo quando esse termo se refere a pessoas com graus mais
distantes de parentesco.
Convém relembrar ao menos alguns
trechos que ensejam o argumento. Em Gênesis
13:8, Abraão diz a Ló:כִּֽי־אֲנָשִׁ֥ים
אַחִ֖ים אֲנָֽחְנוּ - ki anashim
akhim anakhnu, o que seria traduzível por “porque nós somos homens irmãos”.
É óbvio, pela narrativa prévia, que eles não são irmãos, mas tio e sobrinho. A Septuaginta, contudo, traduz a frase
simplesmente por ὅτι ἄνθρωποι ἀδελφοὶ ἡμεῖς ἐσμεν - hóti
ántropoi adelphoì hemeîs esmén, “porque nós somos
homens irmãos”.
Algo semelhante acontece em Levítico 10:4, quando os filhos do irmão
do pai de Arão são convocados para retirarem os corpos de Nadab e Abiú, filhos
de Arão, do Santo dos Santos. São “filhos do irmão do pai” de Arão, portanto
primos deste e primos de segundo grau dos que jazem mortos. Mas lhes é dito que
tirassem אֶת־אֲחֵיכֶם֙ - et-akheikhem,
“vossos irmãos” de diante da face do Santo. A Septuaginta novamente não deixa
de usar o termo para irmão, pois diz τοὺς ἀδελφοὺς ὑμῶν - toûs
adelphoûs hymôn, “vossos irmãos”, mesmo neste caso em que
o contexto imediato elucida o real parentesco entre os envolvidos.
A proposta é clara: a língua grega,
ao ser utilizada pelos judeus, a partir da criação e ampla adoção da Septuaginta, passa a conceder um sentido
mais amplo ao termo ἀδελφός - adelphós.
Diante desse argumento, que não é desprezível, proponho-me as seguintes
questões: os tradutores da Septuaginta
corroboram esse sentido mais amplo do termo? A tradução é capaz de alterar o
sentido de um termo entre os judeus em toda a história subsequente, como se os
judeus usassem a língua grega só para dialogarem com um público estritamente
judeu?
Quanto à primeira questão, é
imprescindível verificar se na Septuaginta
de fato o termo ἀδελφός - adelphós
é utilizado para graus mais distantes de parentesco de modo deliberado ou se os
tradutores somente descuidam dos detalhes da narrativa e optam por sempre
traduzirem אח
- ‘akh por ἀδελφός - adelphós
com
vistas a uma padronização conscientemente almejada, ou mesmo descuidando da
amplitude semântica do termo hebraico. Sugiro uma verificação comparativa de Números 36:11, que pode nos servir de
evidência.
וַתִּהְיֶ֜ינָה
מַחְלָ֣ה תִרְצָ֗ה וְחָגְלָ֧ה וּמִלְכָּ֛ה וְנֹעָ֖ה בְּנ֣וֹת צְלָפְחָ֑ד לִבְנֵ֥י
דֹדֵיהֶ֖ן לְנָשִֽׁים׃
καὶ ἐγένοντο Θερσα καὶ Εγλα καὶ Μελχα καὶ Νουα καὶ Μααλα θυγατέρες Σαλπααδ τοῖς ἀνεψιοῖς αὐτῶν
Macla, Tirza, Hogla, Milca e Noa, filhas de Zelofeade se
tornaram mulheres dos filhos dos tios
delas (hebraico) / primos delas
(grego).
Ora, quando se deparam com uma
expressão que claramente se refere à relação entre primos, sem que haja a
ocorrência do termo אח
- ‘akh no texto hebraico, os
tradutores da Septuaginta usam ἀνεψιός - anepsiós,
“primo”, e não ἀδελφός - adelphós.
Pode-se aventar, pois, a possibilidade de que de fato a utilização de ἀδελφός - adelphós
para sempre traduzir אח
- ‘akh não se trate de um alargamento
do sentido do termo grego, pois, se assim fosse, eles o adotariam para traduzir
também “filhos dos tios delas”.[vi] Ademais, o leitor judeu
da Septuaginta teria contato com o termo ἀνεψιός - anepsiós
por meio desse versículo de Números,
e no uso cotidiano do idioma também, obviamente.
Passo
à segunda questão, que indica uma suspeita de minha parte a respeito da adesão
dos judeus a esse sentido ampliado do termo. Ora, se ἀδελφός - adelphós
tem esse novo amplo sentido só entre judeus, seria compreendido incorretamente
por alguém de fora, uma vez que esse estranho não está informado do fato.
Seria, nesse caso, preciso supor que os judeus escreviam tendo em vista somente
um público judeu, o que, diga-se de passagem, não parece ter sido o caso de
Marcos (CARSON, 1997, p. 112). Um caminho a seguir é a verificação da
utilização do termo ἀνεψιός -
anepsiós entre escritores judeus de um período próximo ao do
evangelista. Não é preciso ir longe nessa busca ou investigar documentos pouco
conhecidos. Fílon de Alexandria e Flávio Josefo, ambos do século I d.C.
utilizam habilmente ἀδελφός - adelphós
e ἀνεψιός - anepsiós,
demonstrando consciência da diferença entre os termos e da especificidade de
cada um.[vii] Em período anterior, o
mesmo pode ser identificado no poeta Teodoto e na tradução do livro de Tobias ao grego[viii], deuterocanônico
presente na Bíblia adotada pela Igreja Romana. Mas, além desses escritores, um
escritor judeu bem conhecido por todos os cristãos e contemporâneo de Marcos e
Mateus também demonstra habilidade para usar o termo ἀνεψιός - anepsiós.
Falo de Paulo de Tarso, que em sua carta aos Colossenses se refere a um certo
Marcos como ἀνεψιός -
anepsiós de Barnabé (Cl 4:10).
Essas
ocorrências demonstram que não é certo afirmar simplesmente que em meio judaico
o termo ἀδελφός - adelphós
é usado como irmão, primo, primo de segundo grau ou sobrinho indiferentemente.
É errado dizer que judeus desconhecem vocábulo que signifique primo. Judeus que
falam e escrevem grego o conhecem sim. Não obstante, pode-se sugerir que esses
escritores judeus que acabo de mencionar são todos dotados de uma educação e
habilidade na língua grega que excede em muito a de Marcos, evangelista de
estilo pouco rebuscado, para usar de um eufemismo. Soma-se a esse argumento o
fato de que, no evangelho, não ocorre o termo ἀνεψιός - anepsiós
nenhuma vez.
A
falta de ocorrência de ἀνεψιός -
anepsiós no texto marcano não é evidência definitiva, dada a
limitação do corpus e a falta de contexto narrativo que o solicitasse. Quanto
ao pouco traquejo do escritor com o idioma, também não é possível aferir se
esse fator realmente afetava a diversidade lexical do escritor nesse campo
semântico específico. A limitação do corpus
nos conduz à cautela também nesse ponto.
No mesmo sentido,
contudo, há um fator consideravelmente complicador. Poderíamos supor que a
influência semita no uso do grego não viesse da tradição escrita[ix] e nem tampouco da língua
hebraica, mas do aramaico falado pelo evangelista e pessoas envolvidas nas
narrativas dos Evangelhos. Mesmo que
Marcos não tenha escrito em aramaico, simplesmente por ter esse idioma como
língua materna, pode ser influenciado por ele quando escreve em outro idioma. E
o aramaico compartilha das mesmas características do hebraico no que diz
respeito ao termo para “irmão”, já que wxa - אחו - ‘akho[x]
pode ser irmão, mas também é usado para pessoas com graus de parentesco mais
distantes. Na Peshita, versão
aramaica do Novo Testamento, é justamente esse o termo que figura nos trechos
dos Evangelhos implicados neste
estudo. O problema desse argumento é que ele é tão difícil de refutar quanto de
comprovar. Como disse anteriormente, não podemos acessar a mente de Marcos para
saber o quanto o léxico de sua língua materna ainda guiava suas escolhas
lexicais na escrita em grego.
Se
tentarmos localizar o termo ἀδελφός - adelphós no
contexto narrativo imediato de suas ocorrências em Marcos, constataremos que os
tais “irmãos” de Jesus aparecem repetidamente com sua mãe (ou mãe e pai,
conforme a perspectiva dos enunciadores em Mc 6:3[xi]), sem a companhia de
outros parentes. Essa configuração com mãe/mãe-pai e irmãos favorece o
entendimento de que se trata da apresentação do núcleo familiar mais restrito.
Favorece, mas não o garante.
Podemos
pensar que essa busca por uma leitura que deixe Jesus como filho único de Maria
é motivada por e gravita em torno de um dado extratextual de caráter dogmático.
Contudo, mesmo sendo dogmática a motivação da leitura, ela deve ser respeitada
enquanto possibilidade, ao menos para o diálogo, uma vez que não se estabelece
de modo ingênuo, mas sagaz, erudito e, em certa medida, escriturístico.
Simetricamente, sua oposição também pode
estabelecer-se em bases razoáveis, devendo ser também respeitada, e não acusada
de ignorância.
Conclusão
Parece-me
que uma aproximação minimamente detida ao problema revela que ambas as
respostas são plausíveis. Mas, note-se, tudo que está no âmbito do plausível é
discutível, uma vez que não está definitivamente comprovado. Se católicos
romanos, Lutero e Calvino podem ter sobrevalorizado uma evidência das Escrituras, muitos evangélicos, por
outro lado, subestimam a questão imaginando que é resolvida por uma simples
leitura de uma boa tradução ou consulta a um léxico de grego antigo. Inclusive,
talvez, o leitor já tenha se proposto a citar aquele versículo de Lucas (2:7),
que se refere a Jesus como primogênito
(πρωτότοκον) de Maria, e não unigênito (μονογενῆ), julgando ter a cartada final. Escuto, então, um
sussurro de Jerônimo que diz com um meio sorriso cansado, de quem já está
envolvido no debate há séculos: “Omnis
unigenitus est primogenitus: non omnis primogenitus est unigenitus” (se é
preciso traduzir: “Todo unigênito é primogênito; nem todo primogênito é
unigênito”). E a conversa não termina tão cedo quanto supúnhamos. Já penso em
dizer: “Puxe uma cadeira, Jerônimo! Aceita café? Calvino e Lutero tinham muito
o que fazer e já nos deixaram, mas não faz mal. Vamos conversando com calma”.
E, antes de apresentar a ele uma versão deste escrito que você acaba de ler, eu
faria um comentário despretensioso, só para nos aproximarmos de modo mais
descontraído: “Curioso é que a gente se esforça tanto para discutir uma questão
que parecia pouco relevante para os evangelistas.[xii] Afinal, se Maria foi
virgem durante toda sua vida, e isso fosse de fato importante, eles deveriam ter tido mais cuidado
com os termos escolhidos e a forma de contar os acontecimentos, não acha?”
Referências
bibliográficas
ANDERSON, Gary. The Garden of Eden and Sexualiy in
Early Judaism. In: EILBERG-SCHWARTZ, H. People
of the Body: Jews and Judaism from an Embodied Perspective. Albany: State
University of New York Press, 1992. p. 47-68.
Biblia Hebraica Stuttgartensia. Ediderunt K. Elliger et W. Rudolph. Editio quinta
emendata opera A. Schenker. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997.
CARSON, D. A., MOO, Douglas J., MORRIS, Leon. Introducao
ao Novo Testamento. Trad. Marcio Loureiro Redondo. Sao
Paulo: Vida Nova, 1997.
HIERONYMI, Eusebii. De Perpetua Virginitate
Beatae Mariae. In: Patrologia Latina.
Vol. XXIII. Paris: Garnier Fratres et J.-P. Migne successores, 1883. p.
193-216.
Septuaginta:
id est Vetus Testamentum Graece iuxta LXX interpretes. Edidit Alfred Rahlfs.Duo volumina in uno. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 1979.
The Greek New Testament. Fourth Revised Edition Edited by Barbara Aland et
ali. Stuttgart:
Deutsche Bibelgesellschaft, 2000.
[i] Acrescento “maternos” entre
parênteses por reconhecer que uma possível solução para a questão escapa ao
âmbito lexical e semântico de que trato neste escrito. Foi proposto que José,
por ser mais velho, tenha tido um casamento anterior, donde viriam os tais
irmãos, ou melhor, meios-irmãos de Jesus, conforme um ponto de vista alheio à
sua concepção divina. O procedimento me parece muito próximo do de certos midrashim agádicos da tradição rabínica
em seu tratamento das histórias da Bíblia hebraica. Um dado do texto e um vazio
de informação permitem a especulação criativa, que fica improvada, mas, também,
difícil de ser negada.
[ii] Título original: De perpetua virginitate Beatae Mariae –
Adversus Helvidium. A brevidade de meu escrito me impossibilita de fazer
jus ao argumento do pai latino. Embora não me veja convencido por ele,
reconheço e admiro a sagacidade e pertinência de muitas de suas considerações.
[iii] Jerônimo se refere ao termo grego
πατριά – patriá, que indica uma
linhagem determinada por um homem.
[iv] Cognatione fratres vocantur, qui sunt de uma família, id est, pátria:
quas Latini paternitates interpretantur.
[v] Luther’s
Works, Volume 22, p. 215.
[vi] É bom, inclusive, observar que
Jerônimo usa frater para traduzir אח - ‘akh no A.T. e ἀδελφός - adelphós nos referidos trechos de Marcos, mesmo entendendo que não significam o mesmo que o termo
latino. Ele o faz pelo respeito que tem à escolha do termo do escritor bíblico.
Igualmente fazem muitas traduções católicas ao português. Mas nem Jerônimo
mudou o significado do termo frater
com isso, nem as Bíblias publicadas por católicos alteraram o sentido do termo
“irmão” em português.
[vii] Cf. por exemplo, de Josefo Ant. Judaicas
1:290 ou 17:19, pela ocorrência simultânea, e, de Fílon, Legat. 26, pela clara diferenciação e hierarquização dos termos.
Reconheço que Fílon tinha o grego como língua materna e não dominava idiomas
semitas. Josefo, no entanto, certamente falava aramaico e acessava as
Escrituras em hebraico.
[viii] Foram encontrados fragmentos do
livro de Tobias em aramaico e
hebraico junto aos manuscritos do Mar Morto. Não há consenso sobre qual dos
idiomas seria o do texto original. O interessante é que, de fato, o texto grego
apresenta um uso amplo de ἀδελφός
- adelphós, inclusive em situações de parentesco mais distante (cf.
Tb 5:13) e, sobretudo, marcadas por afeto (Tb 5:11-12, em que Tobias chama o
anjo disfarçado de parente de ἀδελφός
- adelphós antes de saber que se apresentaria como parente). Mas há
duas ocorrências precisas de ἀνεψιός
- anepsiós (cf. Tb 7:2 e 9:6).
[ix] Estou desconsiderando a hipótese
de que o Novo Testamento, no todo ou em partes, tenha sido escrito em aramaico
e posteriormente traduzido ao grego, o que é defendido por parte da Igreja
Cristã, nomeadamente pela Igreja Ortodoxa Síria, que ainda usa o aramaico
cotidianamente e lê a Peshita, versão
aramaica do Novo Testamento.
[x] Insiro o termo no alfabeto
aramaico-siríaco, por ser este o mais utilizado no âmbito do cristianismo
ortodoxo, mas também no alfabeto utilizado no âmbito do judaísmo porque esse
seria o alfabeto usado no tempo dos apóstolos nas terras de Israel.
[xi] Perspectiva que pode estar errada,
conforme argumento de Jerônimo. Da mesma forma que José é pai de Jesus a partir
de certa perspectiva, assim se daria com seus “irmãos” (Perp. Virg. 16).
[xii] Parece-me que do ponto de vista
judaico a virgindade perpétua de uma mulher (casada) não seria de forma alguma
uma marca de bem-aventurança. Ao contrário, seria a fertilidade que marcaria o
êxito de uma vida feminina. A visão negativa do sexo é, de fato, um fator
diferenciador entre o cristianismo e o judaísmo nos primeiros séculos da era
cristã. Exemplo disso é o fato de que hermeneutas cristãos tendiam a negar que
Adão e Eva tivessem mantido relações sexuais antes de serem expulsos do Éden,
enquanto os rabinos afirmavam que o sexo fazia parte da rotina deles mesmo antes
de deixarem o paraíso (ANDERSON, 1992).
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